Francisco Bezerra nasceu em Pau dos Ferros, Estado
do Tio Grande do Norte, no dia 16 de
fevereiro de 1920, filho de Higino José Bezerra e Maria Bezerra da Costa. Foi
poeta, editor de jornal, filólogo, professor de português e grande estudioso de
nossa língua. Teve 7 irmãos, 4 mulheres, três homens, e Dona Dulce, é a única
que ainda reside em Pau dos Ferros. Chico Bezerra, como era conhecido, começou
a trabalhar muito cedo, ainda na adolescência, contava 17 anos, com seu Chico
França, dono de uma padaria, salão de sinucas, bilhares e outras rendas. Foi lá
que se apaixonou por Irani, quase 7 anos mais nova, filha de seu patrão, mas
tinha medo de declarar a sua paixão devido a diferença da vida econômica, ele
era pobretão, e Chico França riquíssimo para os padrões de Pau dos Ferros, e
isso causava um grande medo de ser demitido pelo pai da moça e musa que lhe
roubava a atenção e suspiros, caso alguém descobrisse a sigilosa e arrebatadora
paixão, porém seus arroubos eram tão grandes que, Irani percebeu e foi ela que
conseguiu, realmente, iniciar o namoro. Chico França e D. Adélia não criaram
qualquer problema. E desse enlace, nasceram 8 filhos: Francisco Assuero Bezerra
de França, Edna Maria de França Bezerra (falecida aos três meses de idade),
José Aníbal de França Bezerra (falecido aos oito meses de idade), Maria Das
Graças Bezerra de França, Ceres Maria de França Bezerra, Leda Maria de França
Bezerra, Francisco Bezerra Júnior e Vanja Maria França Bezerra. Chico Bezerra
era sobrinho de João Escolástico, ex-prefeito de Pau dos Ferros. Seu sogro
Chico França, também fora prefeito, mas apenas por três meses.
Ainda criança, Chico perdeu seu pai e foi morar com
a avó devido sua mãe ter uma prole considerável, sua irmã Albetiza também lhe
acompanhou. Dona Joana Bezerra da Costa também já cuidava de outros netos e por
lá Chico cresceu, desde cedo muito afeiçoado aos livros, comprava sempre que
podia pelos correios através do reembolso postal. Dom Quixote de la mancha, de
Miguel de Cervantes, era um dos clássicos da época. Ensinou alguns primos a
ler, tamanha era sua desenvoltura com as letras e tão suntuosa era sua cultura.
Concluiu os estudos no Grupo Escolar Joaquim Correia, pois, não possuía
condições financeiras de estudar na capital do estado.
Quando moço, aos 25 anos de idade, foi convocado
para servir o exército brasileiro na 2ª Guerra Mundial, e montado num burro,
seguiu em comboio com outros convocados para a cidade Alexandria, para de lá,
pegarem um trem para Mossoró e depois para Natal. Sua ida foi temorosa, uma vez
que o Rio Apodi estava em cheia e seus familiares ficaram com o coração
partido, todavia, com fé no retorno. Muitos choravam enquanto Chico Bezerra,
segurava uma maleta numa mão e controlava o burro com a outra, armado somente
de coragem, seguiu com seus pares, sumindo na cheia do rio e nas estradas
enlameadas em busca da terra da Serra da Barriguda. Para alegria de todos, a
ida para a Itália não foi necessária, uma vez que a Guerra teve seu término.
Pau dos Ferros ganhava ali, naquela viagem adiada, um soldado da cultura e das
letras. Sua volta, foi anunciada através de um vem-vem, pássaro cândido de
nossa região, que sem se espantar com a presença de 5 pessoas, ficou cantando
na janela da sala de jantar da casa de dona Joana, sua avó, e todos naquele
momento só pensaram que era avisando sua volta. Não deu outra, dias depois
chegou um telegrama dele avisando o retorno. A chegada em Pau dos Ferros foi
apoteótica, ele e outros soldados, todos fardados, desfilaram como heróis pela
Avenida Getúlio Vargas e pela Praça da Matriz sob os olhares dos pauferrenses
orgulhosos, quase a cidade inteira prestigiava esse momento.
O tempo passou e em 1991, Chico Bezerra compôs a
obra que o imortalizou, que nunca, por mais que não saibam de sua importância,
perderá seu brilho - o Hino de Pau dos Ferros - um poema em quadras
decassilábicas perfeitas, uma verdadeira ode aos vaqueiros, aos filhos, às
características e às tradições da cidade. Segue abaixo:
Ao aboio dos vaqueiros bravios,
Pau dos Ferros, nasceste no mundo,
E teus filhos repletos de brios
Te devotam respeito profundo.
Onde hoje a Cidade está assente,
Essa Árvore gigante e frondosa
Foi-te o marco da urbe nascente,
Doce terra louçã, dadivosa.
O teu rio de águas apresadas,
Que se fazem riqueza e condão,
Levam vida às culturas postadas,
Num brotar de celeiro-explosão.
Se te fere da seca a tortura,
Um clamor se levanta em teu povo
Que, no entanto, em face da agrura
Se refaz com denodo de novo.
O jatobá, imponente, altaneiro,
E dos seus pés se alonga a campina,
Viu além da cidade primeiro,
Teu nascer, dormitar de menina.
Os teus filhos presentes, distantes
Dizem vinde e cantemos, jograis,
Teu louvor em acordes sonantes
Com esperança de amor e de paz.
Na capital do estado, onde foi morar em 10 de março
de 1957, Chico se notabilizou como um grande estudioso da língua portuguesa.
Era meticuloso. Respeitado. Tomou posse como membro da ACADEMIA DE TROVAS DO
RIO GRANDE DO NORTE, na cadeira n° 11. Também foi membro da União Brasileira
dos Trovadores – Secção Natal- era membro de instituições renomadas.
De março de 1988 a dezembro 2003, editou um jornal
literário,de grande circulação nos meios culturais de Natal, o periódico
trimestral se chamava “O Segrel” e em 2010, foi feita uma edição especial
em homenagem a grande contribuição dada pelo mestre das letras à cultura de
nosso povo. Nesse mesmo jornal eram garimpados textos de vários gêneros e
autores consagrados sempre com altivez e muito critério.
FONTE – CULTURA PAU FERRENSE